Arquivo mensal: fevereiro 2014

“Cada um na sua”

“Cada um na sua” é uma expressão bem humorada de uma observação inadequada e fora de hora.

A tradução em Latim seria: “Ne sutor ultra crepidam”.

A história se passou na antiga Grécia, quando o pintor Apelle fez uma tela onde aparecia uma figura humana.

Com o fim de obter comentários sem sua presença, escondeu-se atrás de uma cortina na janela de sua casa, e de lá, ouvia opiniões sinceras, uma vez que ninguém sabia da escuta.

As pessoas passavam, paravam, comentavam e elogiavam.

Um dos comentários foi de um sapateiro da cidade que, ao analisar a obra, criticou a posição das tiras de couro das sandálias, julgando que teriam pouca resistência às caminhadas.

O pintor concordou e reformou a pintura das sandálias e expôs novamente o quadro.

O sapateiro ao passar, parou novamente, satisfeito com a nova posição pintada nas sandálias de couro.

Mas criticou a musculatura do abdome na mesma figura.

Eis que o pintor abriu a cortina e lhe disse: “Sapateiro, não vá além das sandálias”, querendo dizer, não se meta no assunto que não lhe diz respeito.

Podemos tirar daí uma lição interessante, porque muitas vezes as pessoas se metem a dar opinião sobre assuntos que desconhecem, ou pensam que conhecem, a profissionais da área em questão.

Um médico estava nos relatando outro dia de um cliente que no final da consulta  sugeriu o remédio que deveria ser usado para sua doença.

O profissional, com  toda paciência, explicou-lhe que aquele não seria o medicamento adequado ao que ele havia detectado e com toda delicadeza teve que lembrá-lo quem era o médico naquele momento.

Infelizmente, nos deparamos com pessoas que, sem desconfiar da inconveniência que  estão praticando, se metem a opinar onde não deveriam, e onde não foram solicitados.

Temos que aprender a respeitar o profissional, em qualquer área de sua atuação, pois se nos valemos de sua sabedoria, devemos confiar no que nos recomenda.

Se nos pedem opinião seja para o que for, devemos nos expressar sinceramente, mas sem interferirmos em assuntos nos quais nosso conhecimento conflita com quem nos pergunte, pois poderemos cair numa situação até de ridículo pela inabilidade ou nossa pretensão de um conhecimento que não temos.

Portanto, cuidemos da análise que fazemos a quem tem uma especialização, pois podemos correr o risco de nos expormos a criticas desagradáveis e até de certa forma, humilhantes.

Conhecimento é condição “sine qua” para opinar, senão o melhor que fazemos é nos calarmos até aprendermos a falar com a certeza que o conhecimento nos dá.

E nada nos impede de tentar sempre aprender, para que possamos nos expressar com segurança e podermos ir “além dos sapatos”.

Abraços e bom domingo 🙂

Amanda

Espontaneidade

Ser espontâneo é ser simples e original ao mesmo tempo.

Como o nome mesmo diz, espontaneidade é a característica principal do que é espontâneo e, mais importante, sem afetação ou uma programação de se fazer a pose, pois essa atitude já anularia o ar natural de quem fala ou escreve.

Quando falta a espontaneidade, os circunstantes percebem e, muitas vezes, até os resultados que se esperavam  ficam alterados ou algumas idéias podem ser mal interpretadas.

Se emitimos uma opinião sincera, espontânea, normalmente, ela é respeitada e seguida, pois o interlocutor sente imediatamente nossa franqueza.  Dessa forma, temos mais possibilidades de credibilidade no que expusermos.

Até mesmo o tom de voz e expressão corporal denotam nossa sinceridade e espontaneidade.

E verdadeiros amigos, mesmo que se choquem e não gostem de uma opinião espontânea contrária ao que querem realizar, compreendem, no final, o bem que lhes queremos.

Claro que conhecemos pessoas que, apesar de solicitarem uma opinião, na verdade não querem ouvi-la, ou melhor, querem ouvir somente aquilo que lhes agrada.

Nesse caso fica difícil emitirmos idéias contrárias ao que elas pensam, pois corremos o risco de comprometer uma amizade.

Já me aconteceu quase uma inimizade por dar uma opinião espontânea sobre o relacionamento de uma amiga, pois eu havia conhecido antes as referências da pessoa em questão e com quem ela iria se comprometer.

Fui espontânea e por pouco não perdi uma amizade que tanto prezava.

Felizmente, ganhei sua gratidão por tê-la prevenido e nossa amizade continuou até mais forte do que antes.

Mas é um risco que não correrei jamais.  Cada um deve correr seus próprios riscos nesse âmbito.

Importante conhecermos bem a pessoa que nos solicita uma opinião, e pensar antes e rapidamente se ela quer realmente que sejamos sinceros.

Sentimentos também devem ser demonstrados espontaneamente para que sejam bem compreendidos pelas pessoas a quem os dedicamos.

Se sorrimos ou nos emocionamos, até as lágrimas, deveremos fazê-lo de maneira verdadeira e leal, e não só por acharmos que devemos nos comportar dessa forma.

Mas um ponto tenho que ressaltar:  não devemos usar a espontaneidade para aparentarmos uma franqueza mal educada, com a desculpa de sermos espontâneos,  pois podemos, assim, ofender as pessoas.

É agradável encontrar amigos que se dirigem a nós com alegria e sorriso no rosto, pois essa é uma espontaneidade autêntica, não programada e que nos conquista inteiramente.

Espontâneas e emocionantes também são as manifestações de carinho que recebemos dos animais, pois eles não possuem o raciocínio que os faria agir somente por educação.  São espontâneos em suas manifestações de afeto.

Igualmente, me sinto bem ao receber um sorriso de contentamento quando posso auxiliar alguém necessitado, por exemplo, na rua.

Essas pessoas, em geral, necessitam de ajuda monetária, mas ficam felizes ao receberem um sorriso espontâneo e sincero.

Se não podemos resolver suas vidas, podemos, pelo menos, dar-lhes um momentinho de felicidade ao sorrirmos, na tentativa de transmitir-lhes a compreensão de seus problemas e das faltas materiais de que são vítimas.

Isso diminui, pelo menos, momentaneamente, seu sofrimento.

De outro lado, o que não é espontâneo, passa uma imagem de afetação que desencoraja a aproximação, e quem adota essa atitude, muitas vezes, perde a chance de conhecer pessoas maravilhosas, que muito poderiam lhe ensinar.

Fico chocada quando convido amigos ou amigas que ainda não se conheciam, e eles nem se preocupam em se aproximar uns dos outros e tentar uma amizade que não imaginam o quanto poderia ser importante em sua vida futura, seja social, amorosa ou profissional.

Julgam, muitas vezes, pelas aparências, que nem sempre correspondem à realidade e, como conseqüência, perdem a chance de convívio com pessoas especiais.

Mas agora, espontaneamente, lhes digo, amo vocês e aprendo muito com seus comentários e o carinho que me dedicam.

Abraços e bom domingo 🙂

Amanda

Coerência/Incoerência

Uma das definições da palavra coerência, tão importante para o seguimento de nosso dia a dia, é a exposição de idéias e de argumentação sobre algum assunto ou atitude aos quais nos propomos.

Coerência é, antes de tudo, questão de bom senso.

Impossível vivermos sem a coerência de atitudes, que, uma vez tomadas, podem transformar toda a nossa existência, em vários aspectos.

Se somos a favor de alguma idéia, ou temos algum ideal, defendemos com toda a nossa garra, e então somos naturalmente impelidos a agir como o esperado.

Se fazemos diferentemente, nos tornamos alvo de críticas e admoestações, dependendo do grau de importância que a situação se impõe.

Inclusive, isso determina o padrão de comportamento que se prevê nas pessoas que nos rodeiam, sejam íntimas ou mais cerimoniosas.

A coerência conduz a uma previsão de atitudes, e comanda o resultado que esperamos de qualquer iniciativa.

Se conhecemos bem uma pessoa que faz parte de nosso círculo, seja amigo ou contato profissional, temos um índice de previsibilidade da sua conduta.

O comportamento das pessoas se torna previsível para nós, dentro do cotidiano que nos cerca, e das atitudes que já conhecíamos dessas pessoas anteriormente.

De maneira que, se ouvimos um comentário desabonador sobre alguém, deveremos ser os primeiros a passar por um filtro a informação, se ela é verossímil ou não — principalmente se conhecemos seu padrão de comportamento e sabemos que seria incoerente ou bastante improvável uma atitude desagradável ou desonesta de sua  parte.

E a coerência se faz sentir em todo tipo de relacionamento.

Sempre ouvimos  falar de casais que, apesar de se amarem, ou dizerem que se amam, vivem às turras como se fossem inimigos.  É a incoerência de atitudes ou de aparência.

A incoerência determina uma atitude paradoxal, pois, se criticamos, temos que nos policiar para não tomarmos as mesmas atitudes que são  alvos de nossas críticas.

Como podemos, ao mesmo tempo, criticar a atitude de alguém e agirmos  da mesma forma que abominamos?

Quero dizer que, se defendemos algum conceito ou esposamos uma idéia, e agimos diferentemente na vida prática, somos incoerentes, para não dizer, falsos.

Incoerentes também são pessoas que, apesar de não possuírem meios para viverem num certo padrão, acabam perdendo a noção e se colocando em problemas, muitas vezes insolúveis.

Isso é uma incoerência de atitude que pode tornar a vida um verdadeiro inferno.

Temos que nos policiar para não praticá-la.

Portanto, a coerência não é importante somente para a boa convivência, mas também para o nosso trabalho, seja ele qual for.

Nossas idéias devem ser expostas de forma que não deixem dúvidas sobre aquilo  que sentimos, planejamos, ou até somos.

Sejamos coerentes  em nossas atitudes, idéias e ideais, contribuindo assim para o bom relacionamento familiar, social ou profissional.

Nossas atitudes, se forem coerentes, determinam o que será esperado de nós.

Abraços e bom domingo 🙂

Amanda

Discussão

“Uma discussão prolongada significa que ambas as partes estão erradas”.

Li essa frase há muitos anos.

Penso o contrário.

Sempre que uma discussão importante se esgota rapidamente, perdemos a oportunidade de aprender com ambas as partes, que podem ganhar muitos conhecimentos sobre o assunto em questão.

No entanto, uma discussão estéril ou sobre questões irrelevantes deve se encerrar o quanto antes para evitar maiores desentendimentos desnecessários.

Claro que não vamos tratar aqui de discussão científica, necessária para o progresso da humanidade, e até indispensável.

Trabalhei em laboratório como farmacêutica, e conheço bem toda a estratégia que envolve o lançamento de produtos, itens de adaptação para um clima diferente de onde o produto se originou, etc.

Empresas de vários  seguimentos também discutem sempre o que produzir de melhor, novidades a serem lançadas a fim de conquistarem novos mercados e clientes  que adquirirão seus produtos, preços mais acessíveis para enfrentarem os concorrentes e tudo o mais referente a produção e vendas.

O debate em uma assembléia tem que acontecer, pois se pode, com isso, alcançar benefícios destinados a entidades, ao povo de maneira geral.

Discussões a esse respeito devem e deverão sempre existir.

Mas o que estou abordando aqui hoje é a discussão estéril, ou improdutiva,  carregada muitas vezes de mau humor, que não leva a nada, e que de vez em quando tenho o desprazer de assistir.

Já viram como quem está convencido de estar certo em qualquer ramo de atividade ou em qualquer tipo de matéria, dificilmente aceita a opinião diversa?

Fica, então, desagradável para quem ouve, e o resultado nunca é atingido, pois quem discute, em geral, cria um mal estar nos circunstantes.

E no caso  de assistência fica pior, pois nenhuma das partes quer “perder” a razão, e a discussão pode tomar rumos extremamente desagradáveis que não conduzem a absolutamente nada, em geral.

O melhor a fazer numa discussão — e que deixa a parte contrária muito  desapontada — é esfriar  a conversa, pois na maioria dos casos, se peneirarmos mesmo, não vale a pena, nada ganhamos com isso.

Muitas vezes é só uma questão de vaidade pessoal não querermos perder.

O que se deve cuidar é que uma  discussão não se transforme em disputa, somente no sentido de se sair vitorioso.

Não gosto e sempre me recuso a entrar em uma discussão.  O clima vai se tornando difícil, as vozes se alteram e isso me faz muito mal.

Raramente algo chega a me interessar tanto ao ponto de que eu queira mesmo discutir.  Emito uma opinião se sou solicitada, mas sem que me deixe levar pelo aspecto polêmico que não me faz bem e do qual não necessito para me sentir feliz.

Vale relembrar que a grande maioria das divergências se dá em ocasiões em que estamos empenhados em lazer, bem estar e calma.

Por que estragar tudo isso?

Sem discussão, aceito a atenção e encerro o blog de hoje com a letra da música “Discussão”:

Se você pretende sustentar a opinião

E discutir por discutir só prá ganhar a discussão

Eu lhe asseguro, pode crer, que quando fala o coração

Às vezes é melhor perder do que ganhar, você vai ver

Já percebi a confusão, você quer ver prevalecer

A opinião sobre a razão, não pode ser, não pode ser

Prá que trocar o sim por não, se o resultado é solidão

Em vez de amor, uma saudade, vai dizer quem tem razão

Tom Jobim

Abraços e bom domingo 🙂

Amanda